SOS Rio Grande
Ulbra se mobiliza em meio às enchentes no RS
Por todo o Rio Grande, campi e escolas auxiliam a receber doações e pessoas desabrigadas
Em todo o Rio Grande do Sul, a Ulbra se mobiliza para ajudar quem mais precisa. O campus Canoas se tornou uma grande central de solidariedade. Desde sexta-feira (3), a Universidade se tornou um local de acolhimento para quem foi forçado a sair de casa devido às enchentes que o Rio Grande do Sul tem registrado desde o começo do mês, no que é considerada, segundo o Governo do Estado, como a maior catástrofe climática da história. No último domingo (5), o governo federal reconheceu o estado de calamidade pública em 336 municípios gaúchos.
A Universidade disponibilizou diversos prédios para formar uma estrutura completa que acolha as famílias neste momento tão difícil. As doações estão sendo recebidas no saguão do prédio 16 (Ulbratech), enquanto os desabrigados são encaminhados para os prédios 11, 14, 40, 55 e 60. Crianças perdidas, que chegam sem os pais ou os responsáveis, estão recebendo atendimento especial na sala 18 do estádio do Complexo Esportivo. Também há atendimento para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no 2º andar do prédio 14. Foram montados quatro ambulatórios para atendimento, na sala 8 do estádio, e ambulatórios de triagem nos prédios 40, 55 e 11. O estádio ainda recebeu quatro helipontos.
De acordo com a última atualização divulgada pela Reitoria da Universidade, na noite de sábado (4), mais de 4.000 pessoas estavam sendo abrigadas no campus. No entanto, o número deve ser ainda maior, pois os registros oficiais começaram a ser centralizados pela Prefeitura Municipal de Canoas na tarde deste domingo (5) e podem ser acessados neste link.
Para seguir auxiliando a comunidade de Canoas, a Rede Ulbra de Educação também disponibilizou o Colégio Ulbra Cristo Redentor, que está mobilizando esforços, aceitando doações e voluntários. O colégio fica localizado na Avenida Inconfidência, 1.231, bairro Marechal Rondon, em Canoas.
União em tempos difíceis
Toda esta movimentação é algo inédito na história da Universidade Luterana do Brasil. “Estamos vivendo um dia marcante em toda a nossa história de 52 anos. É um momento muito difícil para todos nós do estado do Rio Grande do Sul, assim como também está sendo para a comunidade de Canoas”, diz o reitor da Ulbra, Thomas Heimann.
Para Heimann, o momento é de união, em todos os sentidos: de esforços pelos desabrigados, mas principalmente para juntar forças para, futuramente, reconstruir o que foi perdido. “Pedimos que todos, irmanados em oração, mas também se colocando à disposição, a partir das suas doações, possam auxiliar a mitigar a dor de todas essas pessoas, que estão vivendo essa tragédia”, adiciona.
O esforço vem de todas as frentes. Diversos colaboradores da Ulbra têm atuado neste momento. Seja na gestão do espaço e da logística no campus, com o seu conhecimento, ou mobilizando redes de contatos, mesmo que remotamente, inclusive nas unidades localizadas fora do Rio Grande do Sul.
No abrigo, todos são acolhidos
“Moça, eu queria ração pra Lola”, foi o que disse uma menina de 5 anos, de pés descalços, com um filhote de cachorrinho nos braços.
Junto com a família, desabrigada devido à enchente, esse é o pedido de uma entre milhares de crianças, adultos, idosos, acompanhados ou não de seus pets, e que agradecem por estarem a salvo em meio ao caos. É mais uma família recebida na Ulbra que está precisando de comida, água, colchão, roupa e apoio.
O apoio é gigante: são dezenas de voluntários, incansáveis, que buscam roupas e sapatos entre as doações, alimentam crianças, idosos e pais que, em meio à correria, encontram-se famintos.
Quem vem ao campus da Ulbra se depara com o estacionamento lotado. As pessoas chegam de todos os lados, de todos os jeitos, como podem, com a roupa do corpo, até sem calçado; às vezes com garrafas de água que conseguiram no caminho; crianças com mochilas e os brinquedos que puderam salvar.
Às 3h desta manhã (6), ainda chegavam veículos descarregando donativos. “Correnteeeeee”, era o grito de comando que se ouvia na entrada do Parque Tecnológico Ulbratech, o prédio 16. Os voluntários corriam e formavam uma longa fileira repassando os sacos e caixas de mantimentos que iam se empilhando para a posterior triagem. Os braços rápidos dos resilientes voluntários eram os elos dessa corrente que não se quebrava apesar do cansaço. A comida das “quentinhas” excedentes foram levadas de helicóptero para desabrigados de Eldorado, na escuridão da noite.
De estudante a voluntário na Ulbra
Segundo um primeiro levantamento da Reitoria da Ulbra, cerca de 800 voluntários estão mobilizados no campus da Universidade em Canoas. O jornalista Marcos Melchior, de 28 anos, é um deles e tem vivido um misto de emoções. Egresso da Ulbra, saiu do campus com o seu diploma, em 2019, e quando voltou no último sábado (4) se impressionou com o cenário. “Me deparei com uma cidade vivendo dentro da Ulbra”, revela.
O voluntário chegou às 10h da manhã apenas para levar doações e só saiu de madrugada, pois se dispôs a ajudar como possível. “É aquele sentimento que te arrepia. Porque a Ulbra era tua casa até a formatura, tu cria esse vínculo, e depois vê a tua casa recebendo uma cidade. Isso mexe muito contigo”, desabafa.
Atualmente, os voluntários se organizam em turnos por meio de um grupo de WhatsApp, que também serve para troca de informações de forma instantânea. O grupo já conta com mais de mil participantes. “Por todo o canto há gente precisando de ajuda e a gente vai ajudando. Muitas histórias dolorosas, de gente que perdeu tudo, criança sem os pais”, relata Marcos.
Nestas horas tão difíceis, a emoção também toma conta. “Em alguns momentos eu tive que me recolher num canto, escondido, e chorar um pouco. Porque é muito forte”, conta. No entanto, para Marcos, toda a mobilização dos voluntários e a participação da Universidade servem de estímulo para continuar ajudando. “Agora eu vejo a Ulbra servindo de uma forma diferente para a sociedade, e conseguindo fazer parte disso, é como se eu voltasse a pertencer à Ulbra”, conclui.
Mobilização em todo o Estado
Todos os campi e escolas da Rede Ulbra de Educação no Rio Grande do Sul estão mobilizados, recebendo doações e disponibilizando sua estrutura às autoridades. Em São Jerônimo, na Região Carbonífera, o campus se tornou pista de pouso. Desde o último sábado (4), o campo de futebol da Universidade recebe aviões da Força Aérea Brasileira, que trazem insumos para o hospital da cidade, que está ilhada devido à cheia do rio Jacuí. Neste domingo (5), as aeronaves trouxeram 30 cilindros de oxigênio e 40 bolsas de sangue.
As doações entregues diretamente nos campi serão destinadas a quem mais precisa nas regiões próximas de cada uma das nove cidades espalhadas pelo Estado que contam com a presença da Ulbra. A campanha é encabeçada pela Aelbra, mantenedora da Rede Ulbra de Educação, e realizada pela Pastoral Universitária. Os endereços podem ser consultados neste link.
Estão sendo recebidas doações de alimentos não perecíveis e água potável, além de produtos de higiene pessoal e limpeza. Também são aceitas doações por meio de transferência por Pix, na chave doe@ielb.org.br. É solicitado que, nas observações, o doador identifique como “Enchente”.
A ação reforça o caráter de responsabilidade social, confessionalidade e solidariedade da Ulbra. Nas fortes chuvas registradas em setembro de 2023, a Universidade também se mobilizou. Foram arrecadadas mais de 6 toneladas de doações enviadas ao Vale do Taquari, região mais afetada à época.
Parabéns!